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Estamos mergulhados no mistério e o nosso conhecimento, enquanto conhecimento humano, jamais poderá prescindir desta dimensão da nossa existência. As páginas deste livro nos convidam a repensar o conhecimento como processo de interpretação de um “mistério” que é constitutivo da existência humana no mundo. Todo processo do conhecimento humano é a tentativa incessante de interpretar este mistério, que nunca poderá ser totalmente desvendado no horizonte da história, mas cuja busca interpretativa pode nos aproximar sempre mais da verdade humanamente possível.
O “algo a mais” que se encontra no título deste livro pode ser interpretado como algo “religioso” ou rejeitado como inexistente e, portanto, irrelevante. Mas nem a visão religiosa nem a negação dessa visão dá conta de captar a dimensão do conhecimento que se abre à transcendência da verdade, indicada por este “algo a mais”. A ganância da racionalidade, de um lado, e a falta de um pensamento crítico/reflexivo, de outro, levam ao mesmo desfecho: a substituição da verdade com a certeza. Ora, a certeza não combina com a verdadeira racionalidade, como não combina com a verdadeira fé, porque a certeza pressupõe necessariamente considerar a nossa razão como medida última de todas as coisas. A certeza nunca é verdadeira, porque não leva em conta os limites do nosso conhecimento frente à complexidade do real e à dimensão inesgotável da verdade, seja ela científica, filosófica ou teológica. O nosso tempo nos convoca a superar a rivalidade entre racionalidade filosófico-científica e pensamento aberto ao mistério da realidade. Um mundo que nos oferece acesso quase que ilimitado a todo tipo de informação necessita, cada vez mais, de pessoas que encontrem na capacidade de pensar a valorização ética do saber. As reflexões aqui apresentadas se constituem como um desafio a superar todas as formas de dogmatismo, buscando um novo caminho para a construção de uma convivência humana livre tanto da ditadura da razão como da indigência de pensamento.
