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Nos mais de dois mil anos da denominada cultura ocidental, o outro diferente dos padrões ditos civilizados, em geral, foi e é visto como alguém a ser dominado, colonizado, doutrinado, para pensar e agir igual ao eu. Alteridade e sentido ético da religião mostra uma outra maneira de relacionamento entre eu e o outro que parte do reconhecimento do outro em suas diferenças.
A ética para Emmanuel Lévinas se dá a partir da alteridade, ou seja, do reconhecimento do outro enquanto outro e não como um alter ego (outro eu). É nesta abertura para o outro que está ancorada a ética como filosofia primeira, em uma relação para além de qualquer reciprocidade, não mais centrada no eu, mas a partir do outro, que interpela o eu ao amor e à gratuidade.
Nascido na Lituânia e naturalizado francês, Lévinas viveu no século XX (1906-1995), e, como judeu, presenciou as duas guerras mundiais. Chegou a ser preso e assistiu muitos judeus serem mortos, inclusive, seus familiares. A filosofia levinasiana se desenvolve a partir de uma experiência vivida e sentida na própria pele.
O sentido ético da religião em Emmanuel Lévinas está no rosto do outro, verdadeira epifania de Deus enquantoconvite para amá-lo e respeitá-lo. Como se vê, é peloreconhecimento e amor ao outro – humano –, em suas diferenças, que se estabelece a relação entre eu e o Outro (Deus). Em tempos de disseminação de ódio e falta dreconhecimento do outro, a proposta de Lévinas se faz necessária e bastante atual.
Essa atualidade pode ser exemplificada pelas palavras do Papa Francisco na sua mais recente Encíclica, Fratelli Tutti: “O amor ao outro por ser quem é, impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando esta forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos” (FRATELLI TUTTI, 2020, n. 94).
Frei Oton Júnior – OFM
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